Uma paixão recente

Integrantes da Máfia Azul de São João del-Rei (Foto Júlia Dias)

*Matéria realizada por Rafaela Ramos e Júlia Dias

Através da iniciativa de alguns grupos começaram a surgir torcidas organizadas na cidade. A pioneira, Máfia Azul criada nos anos 1990,  passou por um período no ostracismo.  Mas após sentir a necessidade de realizarem caravanas, acabou voltando bem mais organizada em 2008, influenciando o surgimento de outras torcidas como a Galoucura e a recém criada Camisa 12, que inaugurou sua sede em 2013. Estas organizações, vistas principalmente nos grandes centros (lugar onde também estão os clubes), agora também estão presentes na vida das cidades do interior, trazendo a mesma loucura e paixão pelo seu time.

A diretoria da Máfia Azul, a decana das organizadas, é constituída por um presidente, Érico Grazinolli, e dois diretores, Rafael Amaral e Ricardo Jaques. É exigida do torcedor  uma ficha com documentos, fotos e certificado de bons antecedentes.  Já a Camisa 12 que foi criada  a partir da iniciativa  de Thomas Magno e  seu  primo, não exige uma documentação rigorosa de seus torcedores, apenas é feito uma ficha com os dados das pessoas para confeccionar as carteirinhas.

Geralmente, a primeira associação que se faz às torcidas organizadas são dos casos de violência ligadas à elas. Mas os representantes reiteram que esta não é a “vocação” das agremiações, e tem regras frente à isso. ”[Em caso de brigas] tem a punição. Dependendo da gravidade podemos excluir a pessoa da torcida ou dar uma punição mais leve, afastar por um tempo. Depende da gravidade da briga.” comenta Rafael Amaral, da Máfia Azul. A Galoucura também prevê a expulsão de membros por confusões; já a Camisa 12 tem uma política diferente: “Primeiramente nós vamos tentar resolver de uma melhor forma aqui na sub sede, mas se não der, se o cara se exaltar, porque isso acontece, aí nós temos que passar “pros cara” [sede principal da C12] lá na capital.”, explica Thomas, presidente da agremiação.

Integrantes da Camisa 12, também de São João (Foto Júlia Dias)

Uma das principais ações destacadas nas organizadas são suas ações sociais, como doações à instituições. Ano passado a Máfia Azul doou cestas básicas para famílias da creche Menino Jesus de Praga, além de brinquedos e fez uma festa para as crianças. “Estamos tentando fazer uma parceria com a torcida do São Paulo para a próxima campanha do agasalho porque quanto mais doação conseguir melhor.”, diz o representante da organizada. A Galoucura e Camisa 12 também realizam eventos do gênero, como doações de agasalhos e de sangue e ações no Natal para crianças carentes. 

As organizadas, além de apoiar o clube que ama, servem também para orientar seus integrantes. “[O nosso foco] principal era tirar os jovens do crime e ajudar a criar cidadãos com responsabilidade.”, relata Vinícius do Vale, diretor da Galoucura. Uma das ações da agremiação é conscientizar seus associados sobre o uso de drogas, desaprovando seja em eventos ou jogos.

Como falado, muito se associam torcidas organizadas à violência. Para a maioria das agremiações entrevistadas, estes fatos ocorrem por conta da forma passional de como são estas entidades - além de serem aumentadas pela mídia, que não foca os pontos positivos das organizadas. A Galoucura e Máfia Azul relatam sobre casos isolados de brigas entre seus associados, principalmente quando as duas organizadas se reuniam em bares próximos uns dos outros, mas o clima entre as diretorias é tranquilo. “Acho que muito amor, muita paixão assim as vezes extrapola, não consegue se controlar, acontece, a violência tá em todo lugar. Não é só dentro das torcidas organizadas que tem violência, a sociedade inteira é violenta.”, ressalta Thomas, da Camisa 12. 

Entretando o foco principal destas torcidas é apoiar incondicionalmente seu clube, onde ele estiver. “Torcida organizada quando começa o jogo você pode ver a festa que fazem. Ela colabora com a festa no futebol, nós sabemos fazer uma festa. Se for pra ir no estádio e ficar sentado, fica em casa mesmo.”, afirma Thomas. Quando perguntado para Rafael Amaral, da Máfia Azul, se isto o atrapalha nos estudos e trabalho, ele responde: “A paixão fala mais alto. É o que diz a música do Cruzeiro ‘Larguei tudo pra te ver, faço isso por amor’.”•

Filipe

Mais clubista que eu, só dois de mim.