A essência permanece

Ainda hoje há um preconceito em relação aos praticantes de esportes que envolvam artes marciais, algumas pessoas creem que eles são violentos, resolvendo seus problemas com agressões físicas e verbais. Com a crescente popularização das artes marciais mistas (MMA),  decidimos abordar este tema.

No reality show The Ultimate Fighter, exibido pela TV Globo entre março e maio deste ano, vimos as piores atitudes que uma pessoa relacionada as artes marciais poderia ter. Alguns podem justificar que Wanderlei Silva é o  funcionário de uma empresa que está buscando uma audiência para seu produto televisivo: "Ah, ele fez isso pelo marketing". Em uma sociedade que já apresenta tantos preconceitos logo à primeira vista, ele abusou de provocações, palavrões e de quebra iniciou uma briga em rede nacional.

Aí você pode me perguntar, mas a ideia não é essa? Brigar? Não meu amigo, as artes marciais  são tradições milenares, usadas para adquirir auto controle, busca de conhecimento e principalmente respeito. Na atualidade desenvolveram-se as modalidades para competição, onde existe um aumento na preocupação com os aspectos técnicos e físicos, devido à exigência de altas performances. Mas a essência ainda permanece, o companheirismo no dia a dia dentro da academia, aquela preocupação com o parceiro de treino que  não aparece mais, ou quando você percebe  dentro do Dojô que tem alguém para baixo em algum canto às vezes apenas precisando de auxílio. Nas competições tudo termina em cima dos tatames, após, o que prevalece é a amizade e o respeito dos atletas.

Lyoto Machida após vencer o amigo Mark Muñoz


Eu tive a honra de conhecer  com um japonês das antigas, Roberto Hideaki Sato, Sensei para os mais chegados. É até engraçado, pois esbarrei com ele justamente quando era um cara que tinha o pé atrás com as artes marciais. Mas conhecer aquele senhor  que dedicou uma vida inteira a isso, transformando em um projeto social onde ajudava crianças sem cobrar um tostão sequer para isso, pois é, cai do cavalo. Exemplo de humildade, atendia a todos com sorriso estampado no rosto,  tinha o respeito de todos sem precisar se impôr.

Depois de um tempo decidi começar a fazer Jiu Jitsu, fiquei sabendo que tinha um professor muito bom na cidade,  um faixa preta com menos de 28 anos, é de se imaginar que ele teria tudo para ser um cara arrogante.  Fui assistir à um treino, quando ele pegou à todos de surpresa e disse que estaria se desvinculando da academia, pois não queria entrar em atritos que ocorreram devido informações desencontradas e mal entendidos. Qualquer um naquela posição poderia ter batido o pé, mas ele usou do desprendimento e da falta de ego, bases advindas das artes marciais.

Já é provado que as artes marciais podem ajudar tanto nas questões físicasquanto em certas características mentais, não importando a idade. Elas podem inclusive auxiliar na educação de crianças, que passam a ter a noção de respeito ao próximo de uma forma mais suave.


A presença de  estigmas  no mundo, nos levam a julgar os atos das pessoas por suas atividades, seu jeito de se vestir, com quem ela convive e várias outras situações do seu dia a dia. Acho bem interessante esta frase dita por Vitor Belfort, quando perguntado sobre o que faria se alguém batesse em seu carro, devido a ser lutador e praticante de artes marciais: "Um dia me perguntaram o que faria se batessem no meu carro. Respondi: agiria normalmente. Quer dizer que se baterem no carro do Pavarotti ele terá de cantar?". 

Para falar um pouco mais desta diferenciação entre o verdadeiro praticante de artes marciais e os "brigões", assista à entrevista realizada com o jovem faixa preta já citado aqui, Yan McCane!




* Matéria dedicada ao mestre Roberto Hideaki Sato, que faleceu em abril deste ano. Homem íntegro que através dos seus ensinamentos e do seu projeto social, mudou a vida de várias pessoas.



Filipe

Mais clubista que eu, só dois de mim.